Este espetáculo estreou em: 7 de Fevereiro de 2004
A partir de Raul Brandão e de A Cena do Ódio de Almada Negreiros
encenação e interpretação de Eduardo Faria
produção: Varazim Teatro
textos: Raul Brandão e Almada Negreiros
encenação: interpretação: Eduardo Faria
assistência de encenação: direcção de actor: Joana Soares
criação de espaço cénico: Eduardo Faria
desenho de luz: Eduardo Faria e Rui Gonçalves
músicas: José Afonso e António Variações
arranjos sonoros: Vasco Soares
cartaz: Eduardo Faria e Joana Soares
fotografia: design gráfico: Joana Soares
agradecimentos: à Escola Prática de Administração Militar
Sinopse:
O Rei Imaginário ou a ausência de Deus é um espectáculo sem pretensões mas carregado de intenções, onde a personagem Teles, um juiz que acaba em ladrão escorraçado pela sociedade, é a imagem degradada do homem que outrora foi, reconhecido e admirado, e que se refugia no sonho, esse “régio dom que a natureza, Deus ou o Diabo, repartem pelos desgraçados para os sustentar na vida”.
Este indivíduo, igual a qualquer outro indivíduo, não passa de um objecto manipulado e que só se liberta do manipulador pelo sonho. Relata-nos a sua vida funcionando cada palavra, cada frase, cada momento, “como uma faca que se enterra nos espectadores” e que a cada questão colocada penetra mais fundo atingindo a dor maior amplitude com a inclusão de excertos da Cena do Ódio de Almada Negreiros.
Tentando preservar a ideia que encontramos em Raul Brandão de que o “Teatro deve ser, mais do que qualquer outra obra literária, uma peça sintética, a alma descarnada das coisas apenas, e, por isso mesmo para que apaixone, é preciso que seja simples, cavando fundo no coração humano”.
COINCIDÊNCIAS entre os autores
RAUL BRANDÃO É PORTUGUÊS Û ALMADA NEGREIROS, TAMBÉM
Raul Brandão nasceu no século XIX Û Almada Negreiros nasceu no século XIX
Raul Brandão e Almada Negreiros seguem_ _ _ _ _ a mesma _____________________________
_________________________________________________Linha de Pensamentos.
O Rei Imaginário foi publicado – 1923 – A Cena do Ódio foi escrita.
1923 – Ambos faziam sentido
2004 – Ambos continuam a fazer sentido
3004 – Ambos continuarão a fazer sentido
Raul Brandão
sonhava
Que se caminhava
“vertiginosamente para um mundo novo”
Almada Negreiros
Sonhava
Que Portugal havia de
“abrir os olhos um dia”
AMBOS ESTAVAM ERRADOS
*
Sobre o Rei Imaginário ou a ausência de Deus.
Antes de mais deve salientar-se que esta é a primeira vez que Eduardo Faria se aventura no campo da encenação.
O porquê deste espectáculo nesta altura?
Em primeiro lugar porque é actual.
Nesta altura parecem-nos pertinentes todas as questões que este espectáculo levanta. Dizemos acerca deste espectáculo que é um espectáculo sem pretensões mas carregado de intenções, sendo a sua principal intenção provocar a reflexão em todos aqueles que o assistam.
Afigura-se-nos que nunca o desrespeito pelo ser humano chegar tão longe. Nunca as sociedades como hoje, incentivaram e valorizaram a individualidade, ignorando o indivíduo; ou se o fizeram temos com certeza de considerar menos grave, porque hoje a humanidade, num acto obstinado e cego de auto avaliação, diz-se evoluída, detentora de um maior conhecimento, logo, mais iluminada.
Na verdade nunca o ser humano se assemelhou tanto com uma marioneta, a diferença está na perfeição, uma vez que os fios que sustentam e comandam as marionetas, no homem, estão de tal forma dissimulados que quase diríamos não existirem.
Isto merece reflexão.
Hoje o homem é já capaz de olhar para o outro lado do universo, mas esta capacidade surgiu juntamente com o crescendo da incapacidade de o homem olhar para si mesmo. Hoje somos capazes de criar condições de vida em lugares distantes do nosso planeta e no entanto não temos, no dia a dia, a capacidade de criar condições de vida, muitas vezes, na porta já ali ao lado.
Isto também merece reflexão.
Mas a actualidade dos textos utilizados para a criação deste espectáculo não se fica por aqui.
Também nos tempos mais recentes, nunca como hoje (pelo menos no nosso país) se questionou de uma forma tão acérrima a justiça. Ora este questionar, deveria ter origem numa reflexão, mas na verdade questionamo-nos se não será apenas uma reacção pelo facto da mesma justiça, muitas vezes aplicada ao indivíduo, estar agora a ser aplicada às individualidades.
E isto também merece reflexão.
Pensamos que nenhum espectáculo seria ou será capaz de resolver qualquer uma das questões por nós aqui apontadas, mas neste espectáculo temos intenção de levar o espectador a reflectir sobre todas elas. E se esse espectador for capaz de encontrar em si mesmo algum ponto (por mais pequenino que seja) de mudança, então valerá a pena sonhar (pelo Homem)!
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